SENHORA DE NAZARÉ. UM SINGULAR CULTO MARIANO.

O Culto a Nossa Senhora da Nazaré insere-se no fenómeno mais vasto dos inúmeros cultos marianos que se desenvolveram no mundo Cristão, principalmente na esfera Católica e Ortodoxa e sobretudo a partir da Idade Média, quando se começaram a multiplicar as representações da Virgem Maria, Mãe de Jesus.

Nossa Senhora de Nazaré (Imagem Peregrina) no seu Santuário da vila portuguesa da Nazaré, berço do culto.

No universo da cristandade, porém, Portugal desde o início se assumiu como uma nação Mariana por excelência, com o primeiro rei português, D. Afonso Henriques, a consagrar desde logo o novo país à Virgem Maria, mantendo-se ainda hoje a Nossa Senhora da Conceição como padroeira de Portugal. Na Catedral de Lamego, no dia 28 de abril de 1142, Afonso I declarou a nova nação como “Terra de Santa Maria”.

Pouco tempo depois, após a tomada de Santarém aos Mouros, o monarca concedeu à Ordem de Cister o domínio sobre um vasto território onde em breve se começaria a construir um mosteiro devotado à Virgem, Santa Maria de Alcobaça. É nesse território cisterciense, que os religiosos rapidamente começaram a desbravar e a povoar, que se situa o promontório da Nazaré, onde este Culto nasceu.

Após o domínio filipino sobre Portugal, a 25 de março de 1646, Nossa Senhora da Imaculada Conceição é nomeada oficialmente Protetora de Portugal, por decreto real, que ratificou a decisão das Cortes, em agradecimento à recém-conquistada independência da nação.

A piedade mariana portuguesa é particularmente marcada pelas peregrinações, os chamados círios (ver página Círios), cujos peregrinos em cada ano, levam uma vela ao altar da Virgem. Os chamados Círios extremenhos, oriundos da região da antiga região da estremadura portuguesa – correspondendo, grosso modo, aos distritos de Lisboa, Setúbal, Santarém e Leiria -, são uma das mais importantes manifestações dessa tradição, com natural destaque para os Círios da Nossa Senhora da Nazaré, principalmente Prata Grande e Olhalvo, que ainda se realizam, mas também outros bastante antigos como o círio da Virgem do Cabo, no Cabo Espichel. Caracterizam-se por terem um caráter de romaria e por serem de organização rotativa entre diversas comunidades rurais, mas também tinham origem urbana, como Lisboa, Leiria ou, mais a norte, mesmo Coimbra no caso da Senhora da Nazaré.

Outra particularidade em relação ao culto mariano é a de que todas as catedrais são dedicadas à Nossa Senhora da Assunção, bem como cerca de um terço das igrejas paroquiais. Isto decorre do facto de muitas datas históricas importantes coincidirem com a festa de Nossa Senhora da Assunção.

«No séc. XVI, a criação das Misericórdias pela rainha D. Leonor foi essencial para a aproximação da divindade a grupos sociais mais desfavorecidos. Através das obras de caridade fomentadas pelo poder régio e pela corte, reforçou-se a sua simbologia protetora. Repare-se como existe uma Misericórdia em cada cidade portuguesa, ajudando os mais carenciados.

A veneração da Mãe de Deus assumiu diversas formas ao longo dos tempos, simbolizando as diversas etapas da vida. De uma lista extensa, destacamos a Nossa Senhora da Conceição, da Natividade, do Desterro, da Boa Morte, da Assunção, das Dores e dos Remédios. Foi eleita padroeira de igrejas, mosteiros, catedrais, dioceses e mesmo de vilas e cidades. No séc. XVII, D. João IV nomeou Nossa Senhora Rainha de Portugal. Desde então, os reis portugueses deixaram de usar coroa real, que passou a fazer parte da representação de Nossa Senhora da Conceição. Ainda encontramos com frequência Santa Maria nos topónimos portugueses.» (fonte)

E não nos podemos esquecer do Brasil, que também adotou a Virgem Maria como protetora espiritual, com a invocação de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, popularmente chamada de Nossa Senhora Aparecida.

A Senhora da Nazaré é, assim, uma entre mais de mil invocações marianas, distinguindo-se por ser uma designação relacionada com uma aparição da Virgem, no âmbito de um ato milagroso. Também se distingue por ser uma das mais antigas devoções marianas portuguesas e talvez o mais importante santuário mariano português antes das aparições de Fátima em 1917, atraindo peregrinações de reis e todas as classes sociais, oriundos de todo o país.

Os Círios eram as manifestações mais vistosas, expressões coletivas em que comunidades concorrem em pompa, mas durante séculos acorriam ao Santuário, local do Milagre, romeiros individuais, da mesma forma como hoje se verifica relativamente a Fátima ou a Santiago de Compostela, centros de peregrinação ibéricos que mantiveram a sua vitalidade. Os próprios registos paroquiais de há séculos atrás, de igrejas como a da Pederneira, registam frequentes casos de peregrinos das mais distantes partes do país, que acabavam por falecer ou casar na Nazaré na sequência de vinda ao santuário por promessa ou agradecimento.

HINOS E ORAÇÕES MARIANAS

A salve-rainha é um hino mariano e uma das quatro antífonas marianas cantada em diferentes períodos do calendário litúrgico da Igreja Católica. É tradicionalmente cantada nas completas do Domingo da Trindade até a véspera do primeiro domingo do Advento. A salve-rainha também é a oração final do Santo Rosário. A autoria desta oração é atribuída ao monge Hermano Contracto, que a teria escrito por volta de 1050, no mosteiro de Reichenau, no Sacro Império Romano-Germânico:

   Salve Rainha, Mãe de Misericórdia,
   Vida, doçura e esperança nossa, salve!
   A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva.
   A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.

   Eia, pois, advogada nossa,
   Esses Vossos olhos misericordiosos
   A nós volvei,
   E, depois desse desterro,
   Mostrai-nos Jesus, bendito fruto do Vosso Ventre.
   Ó Clemente, Ó Piedosa, Ó Doce Virgem Maria.

   Rogai por nós Santa Mãe de Deus,
   Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém.

O leitor poderá encontrar numerosas orações à Virgem Maria nesta página, por exemplo, mas relativamente ao culto da Virgem de Nazaré em particular, em Portugal a oração mais comum será esta:

Ó Virgem Imaculada de Nazaré,
fostes na terra criatura tão humilde
a ponto de dizer ao Anjo Gabriel:
“Eis aqui a escrava do Senhor!”
Mas por Deus fostes exaltada
e preferida entre todas as mulheres
para exercer a sublime missão
de Mãe do Verbo Encarnado.
Adoro e louvo o Altíssimo
que vos elevou a esta excelsa dignidade
e vos preservou da culpa original.
Quanto a mim,
soberbo e carregado de pecados,
sinto-me confundido
e envergonhado perante vós.
Entretanto, confiado na bondade
e ternura do vosso coração imaculado e maternal,
peço-vos a força de imitar
a vossa humildade
e participar da vossa caridade
a fim de viver unido, pela graça,
ao vosso divino Filho, Jesus,
assim como vós vivestes no retiro de Nazaré.
Para alcançar essa graça,
quero com imenso afecto e
filial devoção saudar-vos
como o Arcanjo São Gabriel:
“Ave Maria, cheia de graça…”
Nossa Senhora de Nazaré,
rogai por nós.

Ou esta, consoante a circunstância ou a tradição local

Nossa Senhora da Nazaré,
mãe do silêncio e da Humildade,
protege e santifica as nossas famílias.
Envolve-nos no teu manto,
comunica-nos a Fortaleza da tua Fé,
a Grandeza da tua Esperança
e a Profundidade do teu amor.
Permanece com os que ficam
e parte com os que vão.
Conforta-nos com o teu sorriso
e enxuga as nossa lágrimas
com as tuas carícias de mãe.
Amen.

Já no Brasil, sendo incontornável a importância do Círio de Belém do Pará, o texto devocional mais conhecido será o hino “Vós sois o hino mimoso”:

Vós sois o lírio mimoso
do mais suave perfume
que ao lado do santo esposo
a castidade resume. 

Refrão: 
Ó Virgem Mãe amorosa fonte de amor e de fé
dai-nos a benção bondosa, Senhora de Nazaré (2x). 

De vossos olhos o pranto
é como a gota de orvalho, que dá beleza e encanto
a flor pendente do galho.

Se em vossos lábios divinos
um doce riso desponta, nos esplendores dos hinos
noss’alma ao céu se remonta. 

Vós sois a flor da inocência
que nossa vida embalsama, com suavíssima essência
que sobre nós se derrama.

Quando na vida sofremos
a mais atroz amargura, de vossas mãos recebemos
a confortável doçura. 

Vós sois a ridente aurora
de divinais esplendores, que a luz da fé avigora
nas almas dos pecadores. 

Sede bendita, Senhora
farol da eterna bonança, nos altos céus onde mora
a luz da nossa esperança. 

E lá da celeste altura
do vosso trono de luz
dai-nos a paz e ventura
por vosso amado Jesus.

Este é considerado o hino oficial do Círio de Nazaré, composto em 1909, pelo poeta maranhense Euclides Farias. Posteriormente, a pedido de padre Afonso Di Giorgio, Aldebaro Klautau escreveu o estribilho que cita o nome da Senhora de Nazaré.

Nossa Senhora da Conceição

Nossa Senhora de Fátima

Nossa Senhora da Aparecida

Nossa Senhora das Dores

Nossa Senhora da Natividade

Nossa Senhora da Nazaré

(imagem original no Santuário português)

ALGUNS ESTUDOS MARIANOS