Segundo a narrativa fundadora desta tradição, estávamos no dia 14 de setembro do ano de 1182 e o nevoeiro era cerrado quando D. Fuas Roupinho lançou o seu cavalo na direção de um veado durante uma caçada nas proximidades do promontório que é hoje parte da vila costeira da Nazaré. Apesar da fraca visibilidade, o Alcaide-Mor do castelo de Porto de Mós e ao que tudo indica figura importante na reconquista cristã da Península Ibérica ao tempo do primeiro Rei Português, Afonso I, perseguiu o animal até à beira do penhasco, só se apercebendo quase tarde de mais que aquele tinha caído no abismo e que ele próprio estava na extremidade do rochedo. Nesse momento, o cavaleiro lembrou-se da Imagem de Nossa Senhora de Nazaré com o Menino, ali próximo venerada pelo povo e invocou o seu auxílio para se salvar.

A Lenda de Nossa Senhora de Nazaré e a história deste Milagre estão, desde então, presentes no imaginário coletivo do povo português. Para a sua divulgação, sobretudo além-mar, em muito contribuíram os missionários Jesuítas, que dedicaram o seu primeiro Noviciado em Portugal à Senhora da Nazaré, em Lisboa, mas sobretudo a obra de Bernardo de Brito, monge erudito Cisterciense e cronista do Séc. XVI/XVII que, na sua Monarchia Lusitana, associa o culto medieval da Senhora da Nazaré ao milagre de Fuas Roupinho, bem como de Manoel de Brito Alão, reitor do Santuário e autor de Antiguidade da Sagrada Imagem de Nossa S. de Nazareth, de 1628, outra obra seminal nesta tradição.

Os séculos XVII, XVIII e XIX foram, efetivamente, de grande expansão para o culto de Nossa Senhora de Nazaré, tanto no seu Santuário, como em Portugal e no “mundo Português” da época, onde ainda hoje se veneram algumas réplicas da verdadeira Imagem.

A fama do Milagre e das graças da Virgem da Nazaré foi-se espalhando, foi-se consolidando e a vila que é hoje da Nazaré cresceu à “sombra” desta Lenda e desta Devoção, um dos mais antigos Cultos Marianos português, que perdeu algum fulgor nas últimas décadas, mas que ainda continua vivo em manifestações como o Círio da Prata Grande, a maior peregrinação organizada ainda em curso em Portugal, ou o Círio de Nazaré, em Belém do Pará, Brasil, que costuma congregar mais de dois milhões de fiéis nas ruas da cidade, constituindo a maior manifestação católica da América do Sul.

Esta devoção Mariana portuguesa, de facto, tem mais fiéis hoje do outro lado do Atlântico do que no seu país de origem, sendo dezenas as paróquias, círios e templos a ela dedicados no Brasil, onde também é conhecida como Rainha da Amazónia ou carinhosamente apenas como “Nazinha”.

A partir de Portugal, esta Fé foi-se espalhando pelo mundo – Brasil, Angola, São Tomé e Príncipe, entre outros – como se pode observar no mapa acima, desenvolvido pela equipe da Candidatura e que continua a acrescentar referências.

Festas em honra de Nossa Senhora da Nazaré, todos os anos na vila de Trindade, S. Tomé e Príncipe

Igreja Santuário de Nossa Senhora da Nazaré em Luanda, sede paroquial, fundada no Séc. XVII.

Na aldeia portuguesa de Resgatados, Montemor-o-Velho, também se celebra anualmente a Senhora de Nazaré.

Festas em honra da Sra da Nazaré em Arrifana Igreja Nova, concelho de Mafra

O Círio de Nazaré, em Belém do Pará, é a maior manifestação de fé católica do Brasil, remetendo para a origem portuguesa da tradição