Belém (inicialmente Santa Maria de Belém do Pará e frequentemente chamada de Belém do Pará) é um município brasileiro e capital do estado do Pará, situado na região Norte do país. A cidade foi fundada em 12 de janeiro de 1616 pelos portugueses, desenvolvendo-se às margens da baía Guajará (Paraná-Guaçu). É uma cidade histórica e portuária, localizada ao extremo nordeste da maior floresta tropical do mundo, sendo a capital mais chuvosa do Brasil devido a seu clima equatorial, influenciada diretamente pela Amazônia. Belém possui uma área de 1 059,458 km² e uma altitude de dez metros ao nível médio do mar, estando a cerca de 2 140 km da capital federal, Brasília.

É o município mais populoso do Pará e o segundo da região Norte com uma população de 1 485 732 habitantes, segundo estimativa do IBGE em 2018, e o 12º município mais populoso do Brasil. Ocupa a 22ª posição no ranking de IDH por capital (0,746, alto) e a sexta posição na lista de maiores IDH da região Norte – 3º maior IDH por capital por região.

Em seus 400 anos de história, Belém vivenciou momentos de plenitude, entre os quais o período áureo da borracha, no início do século XX, quando recebeu inúmeras famílias europeias, que influenciaram a arquitetura local, sendo conhecida na época como Paris n’América. Atualmente, apesar de ser cosmopolita e moderna em vários aspectos, Belém não perdeu o ar tradicional das fachadas dos casarões e das igrejas do período colonial. Nas últimas duas décadas, passou por um forte movimento de verticalização, devido a novas tendências na construção civil local e ao plano de valorização do espaço da cidade originada na década de 40 na Avenida Presidente Vargas.

A cidade exerce significativa influência como metrópole regional, influenciando mais de oito milhões de pessoas nos estados do Pará, Amapá e parte do Maranhão, seja do ponto de vista cultural, econômico ou político. Conta com importantes fortificações, igrejas, monumentos, parques e museus, como o Theatro da Paz, o museu Emílio Goeldi, o parque Mangal das Garças, o mercado do Ver-o-Peso e, eventos culturais e religiosos de grande repercussão, como o Círio de Nazaré. (link da fonte)

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A SENHORA DA BERLINDA NAS RUAS DE BELÉM

O século XVII chegava ao fim, quando Plácido José dos Santos encontrou, no meio da floresta, na beira do igarapé do Murucutu, uma imagem de Nossa Senhora. Ela estava sobre as pedras, protegida por cipós e espinhos. Um manto de seda azul brilhante cobria a peça e preservava anotações sobre o culto à Virgem Maria, em Portugal. Plácido levou-a para casa e, partir daí, começou, em Belém, a devoção mariana, que viria, três séculos depois, a se transformar não apenas num traço da cultura paraense, como resultaria na maior procissão católica do planeta: O Círio de Nossa Senhora de Nazaré, que o povo católico elegeu, apenas para confirmar o que se sabe, uma das sete maravilhas do Estado do Pará.

O primeiro Círio aconteceu em 1793 (exatos 93 anos após a imagem haver sido encontrada), por ordem do governador D. Francisco de Souza Coutinho, que programou a realização de uma grande feira de produtos paraenses e, pouco tempo antes da abertura do grande evento, foi acometido de grave enfermidade. Se ficasse bom, conforme prometeu à Nossa Senhora, faria acontecer uma grande procissão. Desnecessário dizer que ficou curado e, no final da tarde de 7 de setembro, reuniu as forças militares, todas com uniformes de gala, autoridades locais, o clero e o povo. Como a capital estivesse sem o seu Bispo, o cortejo foi comandado pelo capelão do Palácio do Governo, padre José Roriz de Moura. Uma grande vela, trazida de Portugal, abriu a procissão, que, por causa das ceras luminosas, passou a ser chamada de Círio.

Muitas histórias ajudaram a construir uma tradição, assentada unicamente na fé. A mais antiga lembra que a Santinha, querendo permanecer na ermida que Plácido construiu para Ela, não aceitava ser levada para outro local e sempre retornava para o espaço onde, hoje, está edificada sua Basílica Santuário, no final (que no passado já foi começo) da avenida que leva o nome da Senhora de Nazaré, a Mãe de Deus. Um lamaçal, provocado pela maré alta, na altura do Ver-o-Peso, justamente na hora em que o Círio passava por lá, fez com que o carro que conduzia a imagem de Nossa Senhora ficasse atolado. Foi necessário achar uma corda, atrelá-la ao veículo e puxá-lo. Nos anos seguintes, por precaução, a corda ia guardada na parte inferior, para ser usada, caso houvesse necessidade de desatolá-lo. Os fieis gostaram tanto da novidade que, em 1855, o bispo D. Macedo Costa oficializou o uso da corda.

Sem dia certo e hora precisa para sair – podia ser qualquer data, manhã ou tarde, entre setembro e novembro – o Círio só passou a ter calendário fixo a partir de 1901, quando D. Francisco do Rego Maia determinou que a procissão acontecesse no segundo domingo de outubro. A falta de regularidade do calendário, porém, não foi, nem de longe, o maior problema dos organizadores do evento. Em 1926, o bispo D. Irineu Joffily proibiu o uso da corda e alterou a face da procissão, substituindo os carros com rodas por andores e excluindo as coreografias. A questão tomou proporções inimagináveis, com a chegada de Magalhães Barata ao poder. Igreja e Governo travaram uma briga que, por pouco, não chegou ao Vaticano. O poder do Estado falou mais alto e o Bispo cedeu. Além dessa questão houve outras, como a realização de Círio sem padres, no século XIX, devido a desavenças com a Maçonaria. Também no século XIX, uma epidemia de cólera quase impediu que a procissão acontecesse. O Círio saiu, mas quando chegou à Basílica, havia menos pessoas no cortejo do que na hora da saída. Muita gente morreu pelo caminho.

Mesmo enfrentado dificuldades em diferentes épocas e com proporções variadas, a devoção à Virgem Maria de Nazaré não parou de crescer. Hoje, fala-se que dois milhões de pessoas acompanham a procissão, pelas ruas de Belém. Esse número confere ao Círio a condição de maior cortejo religioso do planeta e revela, ao mesmo tempo, a dimensão da fé que transforma a cidade de Belém na capital, talvez mundial, da fé mariana.

A imagem da Senhora que vai na berlinda foi esculpida, em duas versões, na Itália, pelo artista Giacomo Mussner, a pedido do vigário da Basílica, padre Miguel Giambelli. Uma ficou em Belém e sai no Círio desde 1969, e a outro foi mandada para a cidade de Bragança. Ela guarda as mesmas proporções da santinha encontrada por Plácido, mas as feições do rosto ficaram um pouco mais parecidas com as de uma mulher amazônica, de ascendência judaica. Afinal, Jesus era judeu, mas a criança que vai nos braços da Senhora é um indiozinho. O nariz é redondo e os cabelos são negros. Quem olhar com cuidado para a peça verá nela uma lição do Evangelho: Nossa Senhora de Nazaré coloca menino à sua frente e o mostra ao mundo, exatamente como quem diz: a festa e as homenagens são para Ele.

A berlinda, esculpida por João Pinto, abriga a imagem da Rainha da Amazônia, na maior de todas as procissões do tempo do Círio. Ela é puxada, atualmente, por cerca de três mil promesseiros, que seguram uma corda linear (antes, tinha formato da letra U, para possibilitar a presença de homens e de mulheres em lados opostos), dividida em estações de metal, na forma triangular, cuja finalidade é dar mobilidade e agilidade na condução da berlinda. Ela é o último dos 11 carros do Círio e está protegida por integrantes da Diretoria da Festividade e da Guarda de Nossa Senhora de Nazaré.

Excetuando alguns poucos anos, em que a procissão chegou ao destino muito depois da hora do almoço (no ano 2000, o mais longo da história, saiu às 7 horas da manhã e chegou à Basílica depois de 16 horas), o Círio cumpre seu percurso em mais ou menos cinco horas. Ele é o ponto alto de uma temporada de quinze dias, que alteram a rotina da cidade. O chamado Natal dos Paraenses é uma festa das famílias, que criaram a tradição de receber parentes e amigos em casa, para o tradicional almoço do segundo domingo de outubro. Belém se enfeita para a festa de Nazaré e as pessoas vivem essa época com tamanha intensidade, que se desejam “feliz Círio”.

Mais maravilhoso do que o tempo do Círio, só mesmo a presença de Nossa Senhora de Nazaré na vida do povo do Pará, do qual é padroeira, mãe, madrinha e rainha. Com direito a honras de chefe de Estado, inclusive.

João Carlos Pereira. Professor, jornalista e membro da Academia Paraense de Letras e do Conselho Estadual de Cultura. É, também, o autor da coleção “Etapas do Círio”, publicada pelo Jornal O LIBERAL, em 2005.

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