O meu primeiro contacto com a Nazaré deu-se quando era ainda seminarista. Nesse tempo significava o descanso e o lazer após uma época de estudos e cansaços. O mar gélido, os jogos de bola na areia, os passeios, as sardinhadas, a paisagem, a alegria das pessoas e aquela maneira “estranha” de falar, por vezes difícil de entender…“Bebeste água da fontinha”… diziam na gíria local os que constatavam a minha alegria. Mal esperaria que naquela frase tão peculiar se escondia tamanha profundidade: Deus tinha preparado para mim a experiência da samaritana do Evangelho, que num gesto quotidiano de ir buscar água à fonte, encontra Jesus e encontra-se a ela própria: «Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz: “Dá-me de beber”, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva!» (Jo 4, 10).

Hoje sou padre na Nazaré; posso até dizer que, em grande parte, sou padre graças a Nazaré. De facto, sem que eu me desse conta, e totalmente no silêncio, Nossa Senhora da Nazaré entrava profundamente na minha história…

Conta-se que esta imagem veio da Galileia, passou pelo Norte de África, esteve no silêncio de um Mosteiro em Espanha e passou anos escondida entre as rochas deste promontório. É esta a “geografia da fé” que Maria faz com cada um de nós, porque ela atravessa todas as fronteiras, culturas e tempos, e traz-nos em cada dia o céu.

O gesto simples de amamentar Jesus impactou de tal forma José que o terá reproduzido em madeira de oliveira. O culto de Nossa Senhora da Nazaré é ainda hoje feito de gestos de fé simples e humildes. Dentro do imaterial e do intangível desta devoção existe todo um universo que como reitor me é concedido ver e tocar diariamente nas vidas dos devotos e peregrinos deste santuário.

Uma das particularidades deste culto é o fato de ter sido fonte de evangelização para muitos povos e é o que Maria de Nazaré faz ainda hoje por nós: ela alimenta Jesus para que Ele cresça em nós e nos continue a arrebatar do abismo.

“Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria. Que seu nome nunca se afaste de teus lábios, jamais abandone teu coração; e para alcançar o socorro da intercessão dela, não negligencies os exemplos de sua vida. Seguindo-a, não te transviarás; rezando a Ela, não desesperarás; pensando nela, evitarás todo erro. Se Ela te sustenta, não cairás; se Ela te protege, nada terás a temer; se Ela te conduz, não te cansarás; se Ela te é favorável, alcançarás o fim” (São Bernardo de Claraval, Hom. II super “Missus est”, 17: PL 183, 70-71).

Pe. Paolo Lagatta, Pároco de Pederneira e Famalicão, Vigário Paroquial (coadjutor) de São Gregório Magno do Bárrio, Reitor do Santuário de Nossa Senhora da Nazaré