Ao nascer do dia 14 de setembro de 1182, D. Fuas Roupinho, Alcaide de Porto de Mós, caçava junto ao litoral, envolto por um denso nevoeiro, perto das suas terras, quando avistou um veado que de imediato começou a perseguir.
O veado dirigiu-se para o cimo de uma falésia. D. Fuas, no meio do nevoeiro, isolou-se dos seus companheiros.
Quando se deu conta de estar no topo da falésia, à beira do precipício, em perigo de morte, reconheceu o local.
Estava mesmo ao lado de uma gruta onde se venerava uma imagem da Virgem Maria com o Menino Jesus.
Rogou então, em voz alta:
Senhora, Valei-me!.
De imediato, miraculosamente o cavalo estacou, fincando as patas no penedo rochoso suspenso sobre o vazio, o Bico do Milagre, hoje chamada de “Pata do Cavalo” rocha prolongada em relação à riba, salvando-se assim o cavaleiro e a sua montada da morte certa que adviria de uma queda de mais de cem metros.

Desde pequeno que o milagre de Nossa Senhora da Nazaré faz parte da minha vivência familiar e de homem e crente, com a força da fé de meus pais e, em particular, de minha mãe Edite Pitorra, a claramente incutir em mim a devoção e amor pela Santa da Nazaré. Os relatos dos muitos milagres e promessas concretizadas construíram em mim a noção da grande força deste culto e da dependência de todo o povo nazareno e de tantas comunidades portuguesas e em todo o mundo nas boas obras de Nossa Senhora da Nazaré.

Relembro as inúmeras missas e procissões do dia 8 de Setembro (a que ia com os meus pais), da vinda dos Círios que visitavam de tantos locais a tantos quilómetros de distância e da forte devoção que em todos estes actos era bem visível. As Festas do Sítio em honra de Nossa Senhora da Nazaré no Largo do Santuário eram para mim um dos grandes momentos de festa da Nazaré, com a presença do povo de todas as freguesias do concelho, ora renovando a fé, ora celebrando-a de inúmeras maneiras, com os mais jovens centrados nas brincadeiras e nos carrosséis (a saudade dessas idas ao carrossel com o meu avô Joaquim são muitas e bem presentes) e os mais velhos centrados nos grandes fogos de artifício, com toda a gente sentada nos degraus do Santuário. Mas também na oportunidade de experienciar novas e velhas “comidas” que, por serem nas Festas, tinham sempre um sabor e agrado digno de um manjar de reis. Porquê? Porque aconteciam num momento familiar e comunitário de agigantamento da fé e porque aconteciam nas Festas em honra de Nossa Senhora da Nazaré.

Sou hoje conhecedor do impacto global que o culto de Nossa Senhora da Nazaré tem, com expressão mais forte em Belém do Pará, Brasil, onde 2 a 3 milhões de pessoas participam no seu Círio. Com esta candidatura a Património da Humanidade da UNESCO, naturalmente renovo estas memórias pessoais e renovo a fé, na certeza de que a mesma nos ajudará a reforçar e expandir este culto com o reconhecimento mais que justo que esperamos como resultado desta candidatura.

Acredito que Nossa Senhora da Nazaré nos ajudará também neste objectivo.

Walter Chicharro, Presidente da Câmara da Nazaré, 01/02/20