A Virgem da Nazaré Padroeira da Vila de Penela

Penela teve Foral em 1137 dado por D. Afonso Henriques, ainda Infante. Portanto encontra-se entre as terras de Portugal que possui ordenamento jurídico mais antigo.

Terra de grande beleza paisagística e de encantos, tem na sua história muitos motivos de interesse.

A Vila de Penela, tem duas paróquias muito antigas, por isso duas Igrejas Matrizes e dois Padroeiros – São Miguel e Santa Eufémia – e uma Padroeira para a Vila, Nossa Senhora da Nazaré.

O seu culto muito remoto, perde-se nos tempos. Segundo alguns escritos, cujos originais certamente se encontram no Arquivo Nacional, foram reproduzidos no ano de 1884, século XIX, no Livro “Noticias de Penella” e que nos revela o quanto era importante a festa religiosa em Honra de Nossa Senhora de Nazaré, para as gentes de Penela.

A 3 de agosto de 1754, foi concedida em Lisboa licença para o lançamento de foguetes na entrada da Bandeira na Vila de Penela, quando esta regressava do Sítio e o curioso dessa carta é a sua descrição:

“…foram os moradores da mesma villa de Penella os primeiros que levaram bandeira e com ella foram em romaria da sua devoção pozeram na sua igreja huma lâmpada e hum círio que ainda hoje conservam, e fizeram nella celebrar o culto divino com outros muitos festejos, e a mesma acçam tem continado os que servem cada hum anno de mordomos e deve já exceder de quatrocentos anno athe o prezente,…”

Portanto certamente no século XII os Penelenses já iriam em peregrinação ao Sítio, mas isso ainda estará por comprovar, mas podemos levar em conta a descrição da carta.

Sabemos que o Círio de Penela tinha o privilégio de abrir as cerimónias religiosas, como acontecia nas procissões da véspera da Assunção de Nossa Senhora. Isto por ser um dos mais antigos Círios. No século XVII o Círio de Penela levava pregador próprio “escolhido de autoridade & letras”.

Até 1799, o Círio de Penela, ia em peregrinação no dia da Assunção de Nossa Senhora – 15 de agosto – Havia muita festa, touros, danças, fogo de artificio, bailes e evidentemente atos religiosos. Quando terminava a peregrinação e antes de saírem do Sítio e para garantirem a continuidade do Círio e da romaria eram nomeados os novos mordomos pela organização da festa seguinte. Depois desta data ao que se sabe passou a ir no terceiro domingo de setembro de cada ano. Com o regresso a Penela, os romeiros e os mordomos faziam a chegada da Bandeira a Penela, sempre ao domingo. A população ia esperar a Bandeira à Senhora do Outeiro ou a Rabarrabos (hoje São Sebastião). Cada pessoa recebia do mordomo ou dos romeiros, uma “medida com medalhinha” que prendia no peito e um “registo” que colocava no chapéu. Os sinos repicavam nas duas igrejas da Vila e os foguetes rebentavam no ar. O Cortejo descia pelo Montarengo e entrava na Vila pela Entrada Norte, à Capela da Senhora da Conceição e entravam assim na Vila, onde Homens e Mulheres trajavam com os seus fatos domingueiros. O mordomo começava logo aí o peditório para a festa do ano seguinte e deslocava-se a todo o concelho e por vezes fora d’ele.

A Festa realizava-se assim todos os anos, a ida ao Sítio era ponto de honra. A vila engalanava-se a cada ano, com festão e armaduras pelas ruas. Era armado um coreto na Praça central para a atuação dos ranchos e das Filarmónicas, pois havia sempre duas filarmónicas, a de Penela e uma outra convidada.

A energia elétrica na Vila de Penela, foi inaugurada a 15 de agosto de 1937 e a Vila ainda se tornou mais bonita, pois as ruas foram ornamentadas com luzes. Em 1933, mais ano menos ano, a Peregrinação ao Sítio teve o acompanhamento da Sociedade Filarmónica Penelense, que animou os dias de festa no Sítio, tanto no arraial, como nos serviços religiosos. Outros anos se seguiram com a presença da Filarmónica Penelense. A Filarmónica Penelense inclusive, tem no seu vasto e riquíssimo reportório, uma Marcha/Hino que executa somente nas Procissões da Festa em Honra de Nossa Senhora da Nazaré.

Como a Festa era da comunidade, toda ela se envolvia na sua realização. Havia sempre um Rancho com crianças que eram ensaiadas para cantarem o Hino a Nossa Senhora, na Procissão das Velas e depois atuavam no pavilhão com danças e cantares.

Em 1949 é benzido um novo Guião, uma replica do original, que hoje ainda se guarda, mas que não é datado, é uma pintura em tela, muito bem conservada.
Depois nos anos 50/60 do século XX a festa decaiu. Na segunda metade da década de 60 a festa voltou-se a realizar e a ida ao sítio foi novamente uma realidade. Mas a Guerra Colonial, a imigração de muitos Penelenses, fez com que a festa fosse novamente interrompida e em 1973,1975, 1977, e 1979 a festa voltou com novo fulgor, mas não resistiu.

Até que em 1998, um grupo de “Homens Bons” desta Terra, meteu mãos à obra e a festa em honra de Nossa Senhora da Nazaré voltou a ser realizada, com a ida do Círio à Nazaré, tendo-se mesmo a Venerada Imagem da Senhora da Nazaré deslocado ao Sítio no dia 11 de setembro de 1999.

A festa tem-se realizado sempre anualmente, com mais ou menos fulgor, são dois ou três dias de festa, onde se destaca a parte religiosa com as suas três procissões, a saber a vinda da Veneranda Imagem para a Igreja Matriz de Santa Eufémia no principio de Agosto e que fica em exposição e adoração até ao dia 14 de agosto, dia em que se realiza a procissão das Velas com a Veneranda Imagem para a Igreja Matriz de São Miguel, realizando-se com pompa no dia 15 de Agosto Missa Solene e Procissão pelas ruas da Vila de Penela uma majestosa procissão.

A imagem de Nossa Senhora da Nazaré, que se venera na Igreja Matriz de São Miguel é em barro policromado, bem conservada, do século XVIII, com 55 cm, mas temos uma outra , não se sabe muito bem a origem, em madeira, também muito bem conservada, com 50 cm de altura e é do século XVII/XVIII, talvez tivesse ido alguma vez ao Sitio, pois é leve e de fácil transporte.

Mas a ida ao Sítio perdeu-se nos últimos anos, por vários motivos, mas que certamente voltará, para se honrar um passado histórico e enriquecedor na história de uma população crente e com fé.

Vitor Simões
Fontes: “Noticias de Penela “ano 1884 – Jornal Voz de Penela 1965 a 1973
“Nazareth Pederneira Sítio Praia” de João António Godinho Granada
“Peregrinos da Memória” de Pedro Penteado