A candidatura do culto de Nossa Senhora da Nazaré a Património Cultural Imaterial da Humanidade merece o maior apoio.

É claro que este culto se enquadra de um modo raro e excepcionalmente rico na noção desse património constante da Convenção da UNESCO para a sua Salvaguarda de 2003.

Partindo do seu Santuário na Nazaré o culto de Nossa Senhora irradiou no espaço ao longo de quase nove séculos estendendo-se em círculos cada vez mais alargados por muitos pontos do mundo. Pedro Penteado destacou «a capacidade de extensão geográfica do manto protetor da Virgem da Nazaré e dos seus feixes de energia» (V.”Dicionário de História Religiosa de Portugal”, volume P-V, ent. “Santuários”, págs 164 e segs, Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa e Círculo de Leitores, 2001).

Os devotos portugueses levaram este culto aos lugares do mundo a que chegaram, atingindo por vezes dimensões impressionantes, como se pode ver em Belém do Pará no Brasil.

Pede-se agora o reconhecimento mundial de um património que se enraizou em tantos lugares e foi vivido por gente de tantas origens para enriquecer ainda mais toda a Humanidade.

No vastíssimo conjunto do património cultural imaterial dos povos de todo o mundo sobressaem casos excepcionais que, mantendo a sua singularidade, progressivamente foram universalizados por gentes incontáveis de vários continentes. Esse património é ele próprio criador de forte solidariedade no espaço, como também o é no tempo entre muitas gerações que se sucedem, sendo em consequência um estímulo à paz e à compreensão entre os povos. Como elo entre elas acolhe as novas mostrando-lhes que foram esperadas na Terra.

O culto de Nossa Senhora da Nazaré é um exemplo paradigmático dessa valência múltipla do património cultural imaterial: baseado na cultura, nos valores e nas crenças nascidos com a nacionalidade portuguesa foi alargado, adquirindo dimensão mundial e acolhendo sucessivas gerações em várias partes do mundo.

Por tudo isto penso que vai ter a consagração esperada, sendo inscrito na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO.

Pedro Roseta, Jurista, ex-deputado e ex-Ministro da Cultura, foi Embaixador Representante Permanente de Portugal junto da OCDE, em Paris, tendo sido também nesse contexto eleito vice-presidente do Comité Executivo e Presidente da Comissão de Ligação com o Conselho da Europa.