1. O culto à Nossa Senhora da Nazaré no Santuário do Sítio, de origem medieval, constituiu uma das mais antigas e importantes devoções marianas portuguesas. Teve um impulso considerável a partir do início do século XVII, com a divulgação da célebre Lenda do Milagre da Virgem ao cavaleiro D. Fuas Roupinho, o crescente reconhecimento da capacidade salvífica da Senhora, o acréscimo das peregrinações individuais e das deslocações dos “círios” ao Sítio, o brilho e a popularidade das suas festas, a proteção régia do Santuário, a sua procura por membros de todos os estratos sociais, bem como a expansão do seu culto em Portugal e nos territórios por onde os portugueses se aventuraram, sobretudo no Brasil.

2. A atual candidatura das manifestações do culto da Senhora da Nazaré a património cultural imaterial da Humanidade constitui uma excelente oportunidade para:

a) salvaguardar e valorizar o património cultural associado às práticas sociais e devocionais, através do investimento em ações para a sua proteção e revitalização, por exemplo, na conservação de locais de culto, no tratamento, digitalização e divulgação dos documentos de arquivos, na museologização dos objetos devocionais, etc;

b) estimular o conhecimento, defesa e divulgação desse património cultural, por meios tradicionais ou digitais, tendo particularmente em atenção o potencial da sua utilização em contexto educativo e junto das novas gerações;

c) promover a investigação e a compreensão da evolução histórica da devoção à Virgem da Nazaré, bem como da construção da sua memória coletiva;

d) afirmar a identidade das diversas comunidades que se reconhecem nesta experiência de Fé, num mundo marcado pela globalização e pela homogeneização cultural, pelos excessos e risco ecológico do modo de vida contemporâneo e por uma crescente dessacralização que obrigam a repensar o sentido da existência humana;

e) aprofundar o sentido do culto e da vivência religiosa nas comunidades de fiéis, estimulando a sua continuidade e atualização através de uma constante procura de resposta para as necessidades espirituais e sociais do nosso tempo;

f) desenvolver atividades sustentáveis de turismo cultural e religioso em torno dos locais, objetos, instrumentos e práticas de culto da Senhora da Nazaré, permitindo ao Homem contemporâneo uma maior compreensão do seu significado e contribuindo deste modo para experiências mais autênticas e profundas que consigam satisfazer a sua crescente procura de bem estar interior.

3. Pelos motivos apresentados, gostaríamos de destacar a relevância desta candidatura a património cultural imaterial da Humanidade, com a esperança que o seu reconhecimento formal se traduza num legado significativo que deixamos às gerações vindouras.

Pedro Penteado, historiador, diretor de serviços na Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, ex-diretor do Arquivo Histórico da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, membro do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa.